sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Por uma nova relação homem - natureza

          A constituição brasileira de 1988 em seu artigo 225 menciona que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (Sampaio, 1993). No entanto, ao se fazer uma breve comparação histórica da relação homem versus natureza percebe-se que desde as antigas civilizações o homem tem sido o principal predador e depredador do meio ambiente, e que civilizações que deixaram de existir por motivos de guerra, antes disto já estavam enfraquecidas com a utilização errônea das práticas ecológicas (Carvalho, 1991). Entretanto é importante frisar que esta não é uma análise que se sustente em culturas, que hoje, denominamos tradicionais.
          A história do homem em sociedade é caracterizada por uma relação complexa com a natureza. A partir do domínio do fogo e da produção dos primeiros instrumentos para agricultura até a era da cibernética, dos vôos espaciais tripulados, a relação homem versus natureza, na perspectiva da cultura ocidental, vem sendo marcada pela ausência de compromisso com a conservação dos recursos naturais para as gerações futuras.
          A entrada do homem na história se faz, ao contrário de outros seres, como produtor. O homem é um ser que transforma a natureza. Por sua vez, a natureza igualmente entra na história com a aparição do homem (o homem é o único ser que faz história, que existe historicamente). Contudo, ao contrário do que ocorre com as outras espécies animais, não se estabelece nesse caso uma relação plena. A relação homem versus natureza é caracterizada como uma forma de dominação. Daí porque se diz que as bases da relação homem versus natureza começaram, desde sempre, sobre bases equivocadas, muito embora a transformação da natureza é um fato necessário e inevitável, porém não sobre as primícias da destruição (Carvalho, 1991). Em outras leituras é possível demonstrar que grupos humanos desde tempos imemoriais estabelecem relações de respeito numa perspectiva que se estabelece nas dimensões do sagrado.
          O advento do sistema capitalista resignificou o domínio do homem sobre a natureza, pois introduziu modificações no modo de vida, na organização da produção, nas instituições políticas, e nas formas culturais. O avanço tecnológico dele decorrente, se por um lado, ainda que para poucos, gerou benefícios no campo da saúde, da cultura e da habitação, por outro lado, está substituindo os ecossistemas (bosques, águas, solos, fauna, etc.) no meio urbano por espaços onde se acumulam rejeitos inorgânicos (lixos, plásticos, etc.), com poluição atmosférica e sonora e contaminação das águas e, no meio rural, por espaços com erosão, desertificação, diminuição da vazão das águas dos rios e aumento das queimadas. Isso configura, sem precedentes na história universal, a deterioração do habitat humano, das condições ambientais e da qualidade de vida, ou seja, o avanço tecnológico comprometeu, em pouco tempo, e de maneira quase irreversível, o que a natureza levou milhões de anos para construir.
          De acordo com Ricklefs (1996), a população mundial está aumentando numa taxa de 2% ao ano. Segundo esse autor, mesmo se o crescimento populacional fosse interrompido hoje, sérios problemas ainda permaneceriam. Isso porque a população humana está consumindo os recursos naturais mais rapidamente do que eles são regenerados pela biosfera e, ao mesmo tempo, está produzindo tantos rejeitos que a qualidade do ambiente, se deteriora numa taxa alarmante, e de forma absolutamente excludente, pois poucos consomem muito o que tira da maioria a possibilidade do usufruto do que deveria ser comum a toda a humanidade. Ocorre que, a maioria da população humana não é mais sustentada pela terra que ela ocupa e o curso presente aponta numa direção imprevisível. Por certo, tal curso não é nada convidativo, pois sinaliza para um decréscimo na disponibilidade de energia e alimentos, para um aumento acelerado da pobreza, para a falta de condições de higiene, para o agravamento da incidência de doenças e para um ambiente gravemente poluído, produto de uma profunda desigualdade na distribuição e utilização dos recursos.
          Urge portanto, que o homem adote uma nova postura nas relações com a natureza, entendendo-se como parte da natureza, não à parte da natureza. A espécie humana tem sido bem-sucedida em se tornar uma “espécie” tecnológica, mas a sua sobrevivência agora depende de se tornar também uma espécie ecológica (Ricklefs, 1996). Isso implica em dizer que, a ocupação dos espaços rurais deve se pautar por agredir o mínimo possível à natureza. E, a produção, para fazer valer os princípios do desenvolvimento sustentável, deve ser crescentemente baseada em recursos renováveis, distribuídos de maneira equânime.


Referências Bibliográficas

CARVALHO, G.C. Introdução ao direito ambiental. 2 ed. São Paulo: Letras, 1991. 329p.  

RICKLEFS, R. A Economia da natureza. 3 ed. Rio de Janeiro: Koogan, 1996.

Palavras chaves: agroecologia, agroecossistema, camponês, transição agroecológica


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